sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Arte de ensinar, arte de aprender 

Ela era pequenininha diante do muito que tinha a nos mostrar, falava engraçado e tinha alergia a giz.
Mesmo assim, estava lá, todas as manhãs, pra mais um dia de aprendizados que eu levaria, e estou levando, por toda a minha vida.
Era a que mais me elogiava dentro do minúsculo espaço que tínhamos, denominado Onzieme Rosado, se não fosse pelos elogios e pelo fato de ser a única da sala com cincos anos que sabia ler, eu não teria concluido o colegial um ano mais cedo. Na época, não imaginamos como elas serão fundamentais, mas quando as encontramos na rua e estas nos reconhecem, parabenizam, abraçam, é que sentimos saudades das Tias Franciscas em cima de um banquinho escrevendo o 'A' com trancinhas a fim de que nunca o esqueçamos, nunca esqueci.
Mais tarde, primário, Instituto Alvorada, como nos sentiamos grandes por subirmos as escadas com as mochilas nas costas, era nossa e podíamos com elas, nada de irmãos mais velhos as levando. Na porta, Tia Carmem com um sorriso nos lábios e brilho nos olhos esperando aquelas coisinhas minúsculas com penteados nos cabelos e falando todos de uma só vez. Feira de Ciências e eu lá, mostrando que sabia ler, com a expectativa de novos elogios. 
Foi assim que Tia Carmem ficou na primeira série e Tia Marta nos recebeu, mais um ano, mais experiências, lembro-me de quase tudo, até da ansiedade por estudar inglês, Tio Geraldo se encarregou disso até a metade do ano, quando Tia Selma ocupou o lugar que este deixara.
Seria fácil continuar como estava, a cada ano uma nova sala, mesma turma, antigos professores separados apenas por uma parede, mas tive que mudar de colégio. Seria eu a mais nova aluna do Disneylândia. Terceira Série, Tia Gerusa, que nunca deixou de ser Tia Gerusa, sinto-me sobrinha dela até hoje, talvez mais hoje que antes.
Quarta série, Tia Auxiliadora,como ela foi importante, já a procurei no orkut, por telefone e nunca mais a encontrei, lembro com perfeição do texto 'O que você vai ser quando crescer?' rabiscado por mim, que ela fez questão de levar pra faculdade, me elogiou tanto que eu li e reli umas vinte vezes procurando o que tinha nele de tão especial.
Estava eu, me formando pra vida, criando conceitos, duvidando, teimando, perguntando e voltando pro Alvorada para cursar o Ginásio. 
Lá, as pessoas já falavam em namoro, já namoravam, trocavam segredos e tinham um professor para cada matéria, por incrível que pareça, essa era a parte que eu mais gostava. Era legal ver mais de um profissional com a mesma função por dia. Assim, fui aluna de uns vinte ou mais, durante todo o Ensino Fundamental maior. (Hugo e Elza com certeza foram os mais especiais pra mim). Não estava entre as que namoravam, mas conheci um carinha legal que me mandava bilhetes e segurava a minha mão no intervalo.
Ensino Médio, sair de lá foi doloroso, choramos e fizemos os nossos, posso chama-los de mestres, chorarem. Hoje, quando eu olho pro Alvorada, que já não é o mesmo desde que conclui, sinto uma sensação de saudade junto com satisfação por ter feito parte de uma família tão linda e o melhor é encontrar pessoas como Klebér, Zuleide, Zilma, e tantos outros professores e ver que ainda lembram da Mickaelly  dos cabelos enrolados, que falava demais, perguntava demais e tinha um carinho especial por cada um deles.
 União Colégio e Curso, posso pular essa parte? Nunca encontrei palavras que descrevessem com perfeição o que vivi ali.
Segundo e Terceiro ano, Passa tudo tão rápido, eu já não era mais a menina sapeca que sentava na frente e se destacava entre todos da turma, mas ainda sabia ler, é eu ainda sei, e ainda encontrei pessoas dispostas a ler o que eu escrevia durante as aulas de matemática (Deculpa Sheilinha), tenho muito a agradecer ao Menino Deus, a todos que conheci e reconheci lá dentro. Faço questão de citá-los por nome... Tia Graça (Diretora), Gracinha, Sheilinha, André, Ionete, Arthur, Ana Luíza, Bergson, Aline, Janzinho, Clécio, Lidiane, Hélio, Erismar, MEU Erismar. Tantos foram os cálculos, os ASCMD's, as amizades, as paqueras, os namoros, os segredos, os chocolates de Tio Carvalho, as Jujubas de Tio Edmilson, as broncas pelas havainas (Que terminava em Graça me defendendo e me deixando assistir aula). A minha vida acabava de terminar, começar, recomeçar. O meu colegial acabara bem ali, na calçada enorme da vizinha.
É, na faculdade as coisas mudam um pouquinho, os mestres só são mestres após o mestrado, e lá vem graduação, pós-graduação, doutorado e mais inúmeras formações que servem para aumento de salário no final de mês.
Se não fosse por Jhose, creio que eu não teria a quem agradecer lá dentro.

A vocês, que tentaram me ensinar cálculos e fórmulas químicas, que me enriqueceram com experiências pessoais incríveis, que estimularam a minha visão crítica. A vocês, graduados, mestres, doutores, ou 'simples' graduandos, muitíssimo obrigada. 
Professores são pais, irmãos, tios, avós, primos, namorados, maridos, palhaços, malabaristas, psicólogos, cantores. São tantos, são únicos, são especiais.
Feliz dia do professor!

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